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quinta-feira, 18 de julho de 2013

ENTRE ASPAS: O CRIADO MUDO DA MINHA SALA É TESTEMUNHA DISSO.




Empurrei a porta, joguei as chaves no criado mudo, me joguei no sofá, e fui tirando os sapatos com os pés. À minha volta tudo é silêncio, e o criado mudo é testemunha disso. O silêncio no meu apartamento só é interrompido por algum eventual intruso felino que pula do telhado vizinho direto pra minha janela sabe sei-lá como. Ou em fins de semana, quando tenho tempo de tirar a poeira do aparelho de som e as cervejas acinzentadas do frigobar. O telefone toca, alguns amigos aparecem, algumas colegas dão as caras e mais algumas outras coisas também, daí acordam com camisas minhas que transformaram em pijamas. A visão é maravilhosa, e supera até a vista da sacada. Café da manhã só quando o relógio não acusa o atraso pro trabalho. Então chega a segunda-feira, e a rotina não vem acompanhada da faxina. Sossego, silêncio, solidão, chame do que quiser. A verdade é que existem pessoas que gostam da solidão mais ou menos da mesma forma que outras pessoas gostam de determinadas estações do ano. Eu me dou muito bem sozinho, e o criado mudo da minha sala também é testemunha disso. As únicas pessoas que não conseguem acreditar nisso ou conceber a ideia de morar sozinhas são as que levam o parasitismo muito a sério. Não existe teste mais eficaz e duradouro de independência, autossuficiência e sobrevivência do que deixar a casa dos pais e ir viver no seu próprio canto. O acúmulo de responsabilidades e afazeres parece bobagem se for justificado pelo fato de não dever satisfações. Dever mesmo a partir de então, só as contas de água, luz e telefone. A modelagem de um espaço com a sua cara, seus gostos e suas manias que ninguém suporta bem ali, seguros e retidos nas suas paredes, que se falassem, não encheriam seus pais de orgulho. É claro que a correria semanal te rouba prazeres simples, como preparar uma comida não enlatada pra variar, ou assistir o canal dos esportes no melhor estilo pés apoiados na mesinha cerveja na mão e no último volume, mas dá pra sobreviver. Afinal, desde o momento em que você acorda pra ir trabalhar ou estudar até o horário em que você volta pra pôr a sua casa em ordem pode se enquadrar na descrição de sobrevivência. Parece até que viver é só para os parasitas, que continuarão em seu conforto sem progresso algum enquanto os seus respectivos hospedeiros assim permitirem. Quem é independente abre mão de certos luxos em sua vida para poder ir onde quiser, voltar quando quiser e hospedando quem quiser, por um curto prazo, é claro.

(Charmoso Canalha) 

Por: Ana Karolyna

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