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sábado, 8 de dezembro de 2012

O COMEÇO DO FIM

o começo do fim
Fazia muito tempo que não dormia tão bem assim, pensou. Levantou-se e percebeu que alguma coisa tinha acontecido. Alguma coisa errada. Se bem que, o errado era tão normal. Ela só sabia que o mundo, aquele dia, tinha acordado diferente. Ela também. Foi do quarto até a cozinha, ainda com a roupa da noite passada, esqueceu de tirar. Prometeu que ia tomar banho assim que chegasse às 3h da manhã de novo. Mas esqueceu, de novo. Mas tudo bem, por algum motivo (ou o mesmo) insondável, ela conseguiu acordar mais cedo do que aquele seu despertador que ainda não conseguiu quebrar. Então tomaria banho sem ninguém lhe apressando, podendo colocar seus pensamentos no lugar, depois tomaria café e, faculdade. Em sua casa, tudo estava no lugar. Ninguém tinha anunciado o fim do mundo, assim como ninguém foi abduzido ou coisa assim. Ela se certificou disso. Todos dormiam. A chave, que tinha usado ontem, ainda estava na porta. Mas não era o silêncio que traduzia aquilo que ela sentia. Era paz. Mas não porque não existia barulho. Chegou a pensar que poderia ter sido a quebra do hábito, por ter acordado tão cedo. Mas se fosse por isso, ninguém acordaria tarde. Jamais. Ela só queria entender o que havia de tão diferente e por quê. Se essa sensação fosse uma intuição ou algum pressentimento ruim? “Isso é radar de notícia ruim”, é o que ouvia falar aos montes de amigas e tias consultoras diárias de horóscopo, astrologia e afins. Foi ficando tão confusa que decidiu que assim que saísse do chuveiro, iria procurar dicas esotéricas e acreditar nelas. Mas viu que não sentia angústia, nem tristeza idem. Se fosse pra ter um radar que prevê desastres, que pelo menos ele funcionasse direito. Terminando de se arrumar, pegou a bolsa e notou que estava leve demais. Carteira. Agenda. Lencinhos de papel. Todos os estojos possíveis, de maquiagem, canetas, escova e pasta de dente. Óculos. Até o lixo que coloca no bolso da frente que esqueceu de jogar fora. Então o que… Ah, o celular. E sem lembrar onde tinha deixado (pra quem esqueceu de tomar banho, não era grande coisa), ligou pra ele. No sofá, perto dos controles de tudo. Tv, DVD, etc. E tentou entender porque ele foi parar ali, geralmente fica carregando. Mas também, estava muito tarde, então vai saber. Checando o celular, viu que ao longo da madrugada, ele chamou quatro vezes. E recebeu uma mensagem. Dele. “Sinto a sua falta. De verdade. Dessa vez, de verdade”. Fim de jogo. Ela finalmente entendeu o que era aquilo tudo e por quê. Diferente, naquele dia, tinha sido acordar sem sentir pena de si mesma. Bem, tranquila, serena. Sem olheiras e sem rosto pronto pra ser carregado de corretivo para cicatrizes emocionais. Tinha sido diferente ir dormir sem tomar banho, porque mesmo em dia de semana, ela foi a uma festa e chegou cansada. E não porque tinha perdido a vontade de fazer qualquer coisa que seja. Foi diferente porque ela conseguiu acordar cedo, sem dor nas costas, sem estar cansada, sem preocupação, e com fome. Diferente porque ela não se preocupou com ligações, nem as dele, já que não colocou o celular embaixo do travesseiro, nem pra carregar. Diferente porque ela nem lembra mais do motivo que a faz se sentir diferente. Ela se sente assim, porque ela é assim. Diferente. Ele, o mesmo. Idiota. Que já foi. Answer call nunca mais. Passado. Passou. De verdade. Dessa vez, de verdade.

AUTORIA - REBECA ARAGÃO 
Por : Ana Karolyna

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